Malaria Consortium | Love and Malaria: Mozambique


Amor e Malaria
Por Ruth Ayisi
Poucas pessoas acham que uma escultura não poderá transmitir uma mensagem forte sobre a prevenção contra a malaria, mas a Sónia Sultuane pensa ao contrário. Ela não é uma pessoa comum. Trabalhando numa firma de advogados como Gestora de Comunicação e Imagem e também como Assistente Executiva, ela é também uma célebre escultora e poetisa em Moçambique.
E agora ela começa a envolver-se na prevenção contra a malária. Ela foi recentemente fotografada com uma rede mosqueteira tratada com insecticida, voluntariamente, integrando um projecto apoiado pela Malaria Consortium, no qual fizeram parte personalidades para promover a consciencialização sobre a prevenção da malária, principalmente sobre a importância do uso da rede mosquiteira de cama tratada.
A malária constitui um dos maiores desafios da saúde na África Sub Sahariana, onde ocorrem 300 milhões de casos do mundo e onde morrem anualmente um milhão de pessoas.. É a doença que mais provoca mortes em Moçambique. A poetisa Sultuane acha que os artistas inclusive ela têm um papel fundamental a desempenhar na luta contra esta doença fatal prevenível. Ela também gostaria de usar a sua arte-poesia e até mesmo esculturas para difundir mensagens sobre essa doença endémica.
Esculturas?
“Sim, esculturas vão contra as coisas normais,” diz a mãe vibrante de 37 anos de um filho adolescente “Ninguém pensa que uma escultura pode ser tão intensa e transmitir tanta informação”.
Prosseguindo com seu argumento, Sultuane cita a sua mais recente obra de arte plástica intitulada “palavras que andam” que é uma escultura de tamanho real “andando”, feita de aço e coberta de letras feitas de papel reciclado. “Este trabalho representa a “libertação das palavras” para que saíam do papel, dos museus. Procuro o “movimento” das mesmas, das suas caminhadas, pela rua, pela cidade, dar-lhes a liberdade imaginária de que o vento lhes sopra. São palavras, umas com sentido e outras inventadas, mas quem sabe se em outras línguas, em outras culturas, poderiam ter sentido, serem sentidas cada uma à sua maneira, ao seu próprio ritmo”. Esta obra foi exposta no ano passado na Av. Julius Nyerere em frente ao Instituto Camões de Maputo.
Apesar da Sultuane nunca ter sofrido de malária, ela quase perdeu o seu irmão de 19 anos a alguns anos atrás por causa desta doença. Essa memória perseguia. Ele vivia na casa da Sultuane nessa época. “ Eu apenas encontrei-o a tremer no chão. Eu pensei que ele ia morrer. Foi um dos momentos mais traumatizantes da minha vida.”
O que a deixou mais chocada foi o facto de terem deixado a malária atingir o estado avançado, tendo atrasado o seu tratamento urgente, diz Sultuane. “Nós pensávamos que era uma gripe. Imagine, e nós vivemos numa cidade onde existe acesso à informação e a um hospital bem próximo. Deve ser muito mais fácil para as pessoas que vivem em zonas rurais deixarem que a doença chegue a esse ponto…” Mais de metade dos 20 milhões de cidadãos do país não têm acesso a um serviço de saúde de qualidade. Um estudo feito na província de Gaza mostrou que a malaria era a causa de 30% de mortes em crianças abaixo da idade de cinco anos no hospital. Não se sabe quantas crianças morrem antes de chegarem ao hospital.
O irmão da Sultuane passou uma semana sob cuidados intensivos e tratamento de uma malária complicada. “Eu não gostaria de reviver essa experiência. Foi muito assustador.”
Até agora os poemas e esculturas da Sultuane falam sobre, “amor e sentimentos, mas porquê não sobre a malária?”. Visivelmente animada com a ideia, disse. “Uma escultura seria bem sucedida na sensibilização sobre a prevenção da malária. Poderia ser uma peça de arte poderosa para nos fazer pensar de diferentes maneiras”
Sultuane explica com entusiasmo o tipo de escultura que poderia fazer. “Imagine uma escultura de mosquitos, formato de uma criança e uma rede mosquiteira tratada a cobri-la…,”